Quarta-feira, Dezembro 08, 2004

Sonhos esbranqui�ados

�� apenas mais uma madrugada� � pensou ele enquanto baixava com viol�ncia o rolo de madeira sobre a massa tenra e se virava. O seu gorro outrora branco estava amarelo e manchado, revelando �s mentes mais perspicazes as pr�ticas habituais a que o seu dono se dedicava. Dirigindo-se � despensa disse para o vulto junto � janela: �Foi nojento, cozinhas mal como a merda. P�e-te l� fora. � e co�ou o rabo com uma haste da batedeira.

Tinha sido s� mais um soufl� de anan�s com abacate, mais uma sobremesa que prometia ser requintada, mas que tinha acabado por dar numa banal mousse de pacote. Era triste. O seu v�cio secreto de se deliciar com a comida preparada por roli�as cozinheiras estava a tornar-se perigoso, sobretudo para o seu fino palato.

Ainda se lembrava de como a tinha seduzido em frente ao sal�o paroquial. Reparou nela primeiro pelos seus fartos seios, depois pelo Pantagruel que trazia debaixo de um dos bra�os. Estava com mais 3 amigas, numa reuni�o de alunas de cursos de cozinha por correspond�ncia, como agora estava na moda. A sua camisola suja de chocolate foi o toque que fez com avan�asse.

Simulou passar casualmente pelo grupo de amigas, e subtilmente fingiu trope�ar e esbarrar com a massa imponente que era o seu alvo, um aut�ntico bisonte americano. Desculpas trocadas e um dedo de conversa chegou para irem beber um caf� na esquina. Ele padeiro e cozinheiro nas horas vagas, ela cozinheira na tasca da Dona Josefa, e o desejo entre ambos cresceu mais r�pido que claras em castelo a serem batidas. Sa�ram e dirigiram-se para a padaria onde ele trabalhava na sua carrinha de distribui��o do p�o.

Enquanto ele guiava para o seu destino, ela come�ou a descrever as suas �ltimas habilidades culin�rias, enquanto se esfregava com os �clairs recheados que se encontravam no banco traseiro. Ele delirou e tentou lamber o creme de um dos p�s da sua cozinheira rec�m seduzida, quase perdendo o controlo da viatura � medida que os tabuleiros de croissants ca�am na parte detr�s da carrinha.

Chegaram � padaria t�o ansiosos como lambuzados, e enquanto ele vestia a sua farda ela ia-lhe colocando o gorro e manuseando os instrumentos culin�rios que tinha � m�o. Teve estertores de prazer enquanto ela batia e batia, fazendo crescer cada vez mais o suced�neo de anan�s, apenas vestida com um avental que mal cobria a sua nudez de v�nus de milo, ou pelo menos as suas dobras de gordura abundantes. Num ambiente de transe simult�neo ele devorou o soufl� que ela preparou, enquanto ele a estimulava com o ralador de queijo que usava para dar o toque final � sua carbonara. A orgia culin�ria repetiu-se vezes e vezes sem conta, acabando as iguarias por parecerem cada vez mais rotineiras e simples. Estava cheio, e s� lhe apetecia vomitar.

Lembrou-se onde estava ao olhar para o boi�o gigantesco do fermento. �Ver se a outra j� se foi para continuar a tratar da massa dos brioches.� Pensou, enquanto sa�a da pequena divis�ria, descobrindo a cozinheira j� vestida mas a comer um prato de sonhos recheados que ele tinha preparado na noite anterior. �J� te disse para sa�res minha Filipa Vacondeus de cantina universit�ria!� insultou, esperando que ela se fosse rapidamente embora. Largou os sonhos, levantou-se movendo os seus 140 kilos de gordura natural e dirigiu a palavra ao padeiro

-�Mijei no soufl�... diverte-te�- disse sorrindo

Ele olhou para ela, sorriu ironicamente abanando a cabe�a e, condescendente, atirou:

-� De onde pensas que o recheio branco e leitoso dos sonhos que est�s a comer vem? Engasga-te!�

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4 Coment�rios:

�s 8 de Dezembro de 2004 00:13 , Blogger alphatocopherol disse...

Isto t� a ficar ao rubro LOL!!!
Viva a aus�ncia de validade liter�ria!!!!!!!!

 
�s 9 de Dezembro de 2004 00:05 , Blogger Chas. disse...

Muito Cu lin�rio ai meu deus onde isto ja vai, qq dia vem para aqui falar do palha�o de circo gay e da trapezista de 200 kilos... Ou nao.

 
�s 15 de Dezembro de 2004 14:00 , Blogger Captain Dildough disse...

Um verdadeiro fuzilamento palavral de gags culin�rios e uma s�tira deliciosa ao texto matriz que todos conhecemos... :)
Decididamente um dos melhores textos do autor, na linha visualmente expl�cita dos seus recentes trabalhos!
E o que sucede ao "suced�neo"? A boulabaisse?

 
�s 15 de Dezembro de 2004 14:00 , Blogger Captain Dildough disse...

Um verdadeiro fuzilamento palavral de gags culin�rios e uma s�tira deliciosa ao texto matriz que todos conhecemos... :)
Decididamente um dos melhores textos do autor, na linha visualmente expl�cita dos seus recentes trabalhos!
E o que sucede ao "suced�neo"? A boulabaisse?

 

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