Quinta-feira, Janeiro 11, 2007

Contos do Virg�lio - O Repuxo (Continua��o)

O velho Virg�lio estava agastado. Eis que se preparava para declamar a sua epopeia quando aquela piolhosa matulagem lhe havia estragado o clima de mist�rio. Riem-se, seus malandros? Ent�o ide-vos foder, vou arranjar p�blico que me mere�a!
Virg�lio estava cansado e bastante disposto a voltar para a sua morada. O �nico sen�o � que, na aldeia, n�o havia criatura mais miser�vel que Virg�lio, o "Sem-Cheta"! Nem um barril tinha pra se poder abrigar...
As piadas � sua conta eram facadas no seu peito, s� ignoradas pela veem�ncia das facadas da fome.
Nem uma porra duma casca de banana tinha para mastigar, � laia de chewing-gum!
"O meu maior inimigo � a velhice, ningu�m liga aos velhos nesta puta desta aldeia!" pensou Virg�lio. De facto, Virg�lio era o mais pobre porque a sua idade n�o lhe permitia trabalhar no campo, e naquele meio rural (pra n�o dizer atrasado) n�o havia labor menos pesado de que pudesse tirar o sustento. N�o tinha familiares, e tamb�m n�o tinha amigos, pois era uma terra de gente interesseira, gente que ligava mais ao protagonismo de pacotilha...
-Olha, viste o Ab�lio?
-Ya, o gajo foi ao Coliseu, esteve a 50 passos da Fam�lia Imperial!
-Iiii, que espect�culo! E quando � que ele volta? Aposto que vem cheio de contratos de publicidade...
-...nem por isso. Foi l� pra ser executado...
E assim viviam os matarroanos na ilus�o de que a fama e a fortuna lhes bateriam � porta, bastando para isso mandar cup�es para os concursos, aparecer em poses provocantes no pergaminho central do Grande Comp�ndio Semanal do Imp�rio e apostar na lotaria.
"Que cambada de imbecis!" pensou Virg�lio, com mais pena que rancor. "Ningu�m demonstra o m�nimo interesse na excel�ncia, no derrube das barreiras, na supera��o pessoal! Na minha juventude fui um aventureiro, vivi dramas in�uditos, combati bestas lend�rias e conheci a intimidade de muitas mulheres (por vezes mais do que uma ao mesmo tempo), se o cabr�o do agente liter�rio me tivesse aceite o pergaminho..." Esta era a recorda��o que lhe trazia mais amargura. Quantas moedas de ouro n�o teria facturado com a publica��o das suas mem�rias! Mas, infelizmente, resolveu faz�-lo ao mesmo tempo que um certo Tonan, da long�nqua Barb�ria. A publica��o deste �ltimo n�o lhe era superior em prosa, salvo que usou de menos parcim�nia nas partes badalhocas, mais algum mexerico em torno dos h�bitos curiosos duma certa figura p�blica e... tinhamos um veste-c�lar!
"Depois disso, passei a ser o gajo que veio depois do Tonan..." pensou, amargurado.
"Enfim, n�o se pode ter tudo..."
...
...
...
...
...
"-Grande cabr�o!"
(continua)

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